"Algumas pessoas mais chegadas me saíram com essa. Era uma história de que eu tinha um menino, lá em casa, ele ficava debaixo da escada espiralada que leva para o primeiro andar. Em alguns momentos, alguns dias específicos, o menino aproveitava que eu estava dormindo, subia, ligava o computador e escrevia em meu lugar. Os melhores textos, portanto, os mais delicados, penso, seriam do tal menino, ou o Menino Tao, se for o caso. Estou começando a achar que é verdade. Nunca o vejo direito, mas penso que ele existe. Às vezes, quando abro a porta bruscamente, sei que ele conseguiu ficar quietinho, sem respirar muito, para que eu não o veja. Entre nós, portanto, vem surgindo uma cumplicidade de presença e ausência, e já nem reclamo quando ele escreve no meu lugar. No fundo, é bom ter alguém para escrever no lugar da gente, quando falta algo para dizer."
SAMARONE LIMA é prosador e poeta. Nasceu no Crato, Ceará, morou em oito cidades de diferentes estados e há cinco anos vive em Olinda, onde teve o Sebo Casa Azul. É autor dos livros jornalísticos Zé: José Carlos Novaes da Mata Machado - reportagem biográfica, Mazza, 1998, Clamor - a vitória de uma conspiração brasileira, Objetiva, 2003, e Viagem ao crepúsculo, Casa das musas, 2009, finalista do Prêmio Jabuti em 2010. Em 2014, com o livro de poesia O aquário desenterrado, pela Confraria do Vento, ganhou o 2º Prêmio Brasília de Literatura e o Prêmio Alphonsus de Guimaraens, da Fundação Biblioteca Nacional. Lançou, também pela Confraria, em 2016, A invenção do deserto. Em 2019, publicou, pela CEPE, Cemitérios clandestinos. Desde 2003, escreve crônicas em blogs, sites e revistas. Esta é a primeira seleção publicada pela Confraria do Vento. Torcedor do Santa Cruz Futebol Clube, de esquerda, acredita que a vida será sempre melhor e será, e que é bonita, é bonita, é bonita... como o sorriso do seu filho Samir.
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