A memória possui um apurado senso estético, e eu não sei se o que agora me
recordo aconteceu exatamente como acabei de relatar, mas eu não posso
deixar de relembrar este encontro sem sentir a satisfação de alguém
que observa um belo quadro ou escuta uma boa música. Você
observa o passado com a tentação de simbolizá-­lo, pois há
uma misteriosa exuberância na imagem que se
contempla através da lembrança. Eu não imagino
que tenha experimentado este sentimento no
momento em que essa conversa aconteceu;
eu devo ter adicionado a este momento
uma significação que em si mesmo
ele talvez não possuísse. Mas
não o fazemos com mais
frequência do que
imaginamos?

PEDRO MOURA nasceu em Recife. Há oito anos reside em Londres, onde trabalha na editora Macmillan Publishers. Suas frequentes viagens de negócios serviram de inspiração à maioria dos contos que compõem O convidado, seu primeiro livro.