edson bueno de camargo
quartzo orgânico
crisálidas
crisálidas
se quebram como quartzo orgânico
lento
de dentro para fora
cujo receio é não ter forças
e se rompe no momento certo
em qualquer espaço de tempo
entre o princípio de tudo e a certa medida
o homem novo não tem medo de escuro
as varetas
dando a vaticínio errado
homem e a mulher novos
têm os dentes brilhantes e posam no outdoor
vestem camisas brancas
e sapatos azuis
as mariposas
impassíveis a tudo
mudam de cor e de lugar
ossos meus
dependurados ossos meus
brincos grotescos de grito
salgueiros sem folhas
manto vegetal e estéril
comer inumano
inumados
imóvel cantoria de gemas preciosas
arados de ametistas
rasgam o ventre apodrecido
e fértil aos germes
sintoma de medos e calafrios
fantasmas analógicos
percorrem análogas alamedas
que vazias
consultam o vozeio de ausências
surge o novo cântico
o primeiro passo outra vez
meus ossos balançam com o vento
a corda podre ameaça romper
Gitanes mentolados
um velho cigano
coxo da esquerda
atravessa a rua
seus olhos
são velhos suíços embotados relógios
esses que faíscam
sobre o gato preto
com uma fita azul
e um anzol fisgado no focinho
o peixe ronrona dentro do gato
o garfo atirado na fúria
em frente para a viela
um café parisiense
o casal bebe lembranças do Reno
em copos azuis
semi embotados
se acreditar
o espírito ainda habita a garrafa
fumando Gitanes mentolados
grãos de peso zero
o livro vermelho
solidão sobre a mesa
(quanto tempo?)
a poeira secular
denuncia o medo
que espreita
rosas brancas ofertadas
o velho cínico ainda cora
em suas confissões de quase adolescente
lúbrico espera resposta que não encontra
fabular dá menos trabalho que a verdade
e tem sido um bom vinho
seu novo temor é ancestral
é o de entrar na ancestralidade
cortinas de ódio são urdidas
de outra feita o cosmos despencaria
se constitui em
grãos de peso zero em suspensão
iluminuras a fogo de tocha e velas de cera de abelha
o ouro queimado
o azul vegetal
óleo queimado
trata-se de nós em linhas cruzadas
babylook escrito Jesus
e a calcinha vermelha aparecendo uma renda
(fosse outro tempo arriscava um sorriso)
espelhos de espeluncas no metal carcomido
enquanto observo
bares de beira de estrada, puteiros, paradas de caminhões
há um cheiro brusco entre fresca poeira
urina antiga
diesel gasolina
e óleo queimado
tambores transbordando de óleo queimado
num solo miserável e estéril
onde teimosos nascem dentes de leão selvagens
e som do universo ecoando nesta estrada
EDSON BUENO DE CAMARGO
publicou O Mapa do Abismo e Outros Poemas, Poemas do Século
Passado – 1982-2000, Cortinas e participou das antologias
poéticas As Cidades Cantam o Tamanduateí que Passa e Poesia Só
Poesia. Junto com os amigos escritores da extinta Oficina Aberta da
Palavra, grupo de Mauá-SP, edita o fanzine aperiódico Taba de Corumbê.
Participa do grupo poético/literário Taba de Corumbê, do qual por
aclamação foi intitulado Cacique e das aulas da Escola Livre de Literatura
de Santo André, como aprendiz de mundo.
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