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rolando revagliatti


estigma 3



 

abstrato
 


fatia abstrata expropriada de resquícios e fronteiras
selada cratera
sujeira amontoada nas origens
asas da magnitude
e crostas sobre caminhos e marginações



lavrar mel
 


baobá acontecer no sonho
aguamanil condição do século
frígia estofa acamada de ásia
djustalineal céu por céu
diérese agora a semear
epistológrafo à luz do candeeiro
amicus humanus generis para pelourinhos
 



entre
 


queixas entre páginas como ínfulas
ensonhações diurnas poluções noturnas

casas entre flores como ardis
que segregam uma luz especiosa

foi-se um feioso entre a metralha
 



jazer desencadeie
 


sirva como jorrinho desfalecente
til com um cravo de cheiro
abone com irrestritos suspiros
tanta ternura quebradiça
torne confradia o diminuto formigueiro de seu decoroso jardim
para que jazer desencadeie uma primícia
principal e bendita
 



uma caixa de correio
 


caixa em loja
o comecartas
engole sobres
alígeros

o foda?
as aftas



fechos
 


no melhor dos mundos os pensadores encerram seus músculos
atrás da porta alguém deixou enclausurada a luz de seu quarto
é uma criança quem atina em encerrar a tremenda carícia em um sonho

 

 

autópsia de meu cadáver maneiro

 

acaso algo mais que entrar e sair?
algo mais em alguma parte?
um pouco de cheio? ...

joguim de palavras
que remetem via de regia
                        ao repolho

ao calor do lugar
o ânimo se levantou
sobre o leite derramado

a chata da donzela
e eu
       uma joiazinha de cunha psicosomática
e a última gota (tinta ou sangue)

de um a três nós na garganta
mordendo-me os cotovelos frescos e pentear cana

descerebrado e com ruguinhas
finalmente descerebrado e com ruguinhas
a noz de adão e a amêndoa de eva

homens fáceis de choro fácil
abriam paço
a lavadas lágrimas de crocodilo

ser da partida
(e mais ou menos teu)
o papagaio do galã
de bom coração
           e rins

olho por olho
com o rabo do olho
tenho muito olho

outra vez será
final feliz

 


sonhos punitórios
 


sonhos punitórios em que caí miseravelmente
uma noite qualquer de março entre as três e a almofada
descomissionada por minha mui briosa -- ainda que em sonhos – noturnidade

sonhos punitórios que ejaculo
com uma ligeira gritaria
pontual como as fragrâncias raivosas

sonhos punitórios nos que declamo envaselinados parágrafos
de ridicularia

sonhos punitórios onde dito argúcias beckettianas
enquanto malone, joe, malloy e murphy renovam
calamidades exclusivas

sonhos punitórios multidirecionais
nos que estou quando me encontram ruminando
a oportunidade de um próximo golpe
de graça extrema ou intimidade

sonhos punitórios para as origens de meu autocaratulado bonismo consagratório
matizado por algumas abrilhantadas claudicações:
a saber:
roubo e estupro mas também sevícia seguida de assassinato
malversação de cabedais públicos
bobagem
desvirtuação de atributos
e tráfico de chupetas de alta toxidade

sonhos punitórios para periódicas mutilações
referidas a zonas hóspitas e inóspitas onde me encho

sonhos punitórios da má-ventura



um ator se prepara

(a nemírovich-dánchenko e stanislavski)

uma careta na minha cara
um latido dentro de meu coração
um globo amarelo debaixo de meu céu

uma balsa encima de meu rio
um punho encima de minha cabeça
um jasmim dentro de meu punho

um dólar dentro do festival em minha homenagem
um escaravelho em minha biblioteca

uma lembrança de minha lembrança de suas pernas
um tique nervoso ao redor de meu ressentimento
uma antigüidade ocupando o centro de minha axila
um inaceitável tecnicismo aos pés de minha sapatilha

uma simpatia à volta de minha esquina
uma cotiçazinha agradecida flutuando de minha garrafa de moscatel
um vento cálido do nordeste do meu planisfério

um ator se prepara com seus dentros e foras de si
um ator se prepara com seus encimas e seus abaixos
um ator se dispõe a enfeitamentos entranháveis
à volta, de e ao redor
e desnudezes súbitas ocupando centros e aos pés

um ator se precipita sobre as gemas
um ator se subsume em um solilóquio
um ator atinge suas réplicas e pausas
um ator rega suas memórias e espiona suas áreas cercadas
um ator se realiza na contemplação

um ator se prepara na ante-sala do espelho
e outro na penumbra
e outro na imutabilidade de seu crânio
 

 

Tradução de Ricardo Pinto.

 

ROLANDO REVAGLIATTI nasceu em 1945 em Buenos Aires, cidade em que reside. Publicou um volume que reúne sua dramaturgia, dois com contos e relatos e quinze poemários. Foi incluído em mais de trinta antologias de poesia da Argentina, Brasil, Chile, México e Índia. Textos narrativos e poéticos de sua autoria foram difundidos em onze idiomas, em publicações gráficas e digitais, primordialmente em países da América e Europa. A presente coletânea de poemas, Estigma 3, é inédita. Sua homepage é www.revagliatti.com.ar.


 

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