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rafael alberti


marinheiro em terra

 

RAFAEL ALBERTI (1902 – 1999) é um dos poetas que compõem a chamada Geração de 1927, da literatura espanhola, que buscava uma poesia composta essencialmente por imagens. Nascido em Puerto de Santa María (Cádiz), Alberti viveu da pintura até 1923. Em 1925, recebeu, com Gerardo Diego, o Prêmio Nacional de Literatura por Marinero en tierra, livro bastante elogiado por Juan Ramón Jiménez e no qual constam os poemas aqui apresentados. Nele se pode observar uma escrita chamada por Vicente Gaos, neopopularista, que uniria traços tradicionalistas e modernistas. Os livros mais conhecidos de Alberti são La amante, El alba del alhelí, Cal y canto e Sobre los ángeles. Apesar de tudo, ele é ainda pouco conhecido no Brasil e esta tradução de poemas de Marinero en tierra, feita por Fabiana Fersasi e Márcio-André, é, até onde temos notícia, a primeira para o português.

 

 

 

[Envergue-me sobre o mar]
 


Envergue-me sobre o mar,
ao sol, como se meu corpo
fosse o girão de uma vela.

Retire todo meu sangue.
Estenda-me para secar
sobre os cordames do cais.

Seco, atire-me às águas
com uma pedra no colo
p’ra que nunca mais flutue.

Aos mares dei o meu sangue.
Naveguem, barcos, por ele!
Debaixo estou eu, tranqüilo.




Sonho

A los remos, remadores!
— Gil Vicente
 

Noite.
Verde caracol, a lua.
Sobre todos os terraços,
donzelas brancas nuas.

Remadores, a remar!
Da terra se eleva o globo
que há de morrer no mar.

Alba.
Durmam, brancas donzelas
enquanto não caia o globo
nos braços da maré.

Remadores, a remar!
Enquanto não caia o globo
nas gargantas do mar.
 

 

 

Ribeira
 


Olhos meus, quem se via
por detrás da gelosia?

Alguma moça bordando
amores de contrabando
a náuticas romarias?

Olhinhos que estão olhando,
abri esta gelosia,
pois estou de amores morando!

Olhos meus, quem se via
por detrás da gelosia?

 


[Recorda-me em alto mar]


Recorda-me em alto mar,
amiga, quando se for
e não voltar.

Quando a tormenta, amiga,
sulcar na vela uma relha.

Quando alerta o capitão
sequer se mover.

Quando o telégrafo
sem fios já não se entender.

Quando até ao traquete
tragado tiver a maré.

Quando no fundo do mar
for sereia.



[Muralhas azuis, ondas]


Muralhas azuis, ondas,
da África, vão e vêm.

Quando vão...
Ai, quem com elas se fosse!

Ai, quem com elas voltasse!
Quando voltam...

 


[Minha amante tem gravado]


Minha amante tem gravado,
bem no peito de seu pé,
o nome de seu amado.

— descalça-te, amante minha,
deixa tuas pernas ao vento
e desliza teus sapatos
por esta água doce e fria.



[O mar do porto vem]


O mar do porto vem
negro e se vai.
sabe aonde vai?
Não, não sei!

De branco, azul e verde,
volta e se vai.
Sabe onde vai?
Sim, eu sei!
 

 

[A aurora vai deslizando]


A aurora vai deslizando
entre melindres de trigo.
Bem na pontinha do dedo
se lhe fincou um espinho.

Lave-o no rio, aurora,
e deixe secar ao vento!


 

FABIANA FERSASI é tradutora, jornalista e revisora, formada em espanhol pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde participou de projeto de pesquisa na área de português como língua estrangeira em processo de aprendizagem. Editou o Jornal Mega Recreio e fez trabalho de redação e revisão para a agência de publicidade Blanco Comunicação Integrada. Para a Editora Oceano, traduziu a parte de Biologia da Enciclopédia Oceano, em equipe dirigida por José Luís Sanches e Norma Beatriz Torres (Instituto Cervantes).

 

MÁRCIO-ANDRÉ é poeta, músico, editor e design, autor dos livros Movimento Perpétuo e Chialteras e coordenador do projeto Arranjos para Assobio, de texturas poéticas e realidades experimentais (http://arranjos.confrariadovento.com). Trabalha na tradução de poesia de Arnold Flemming, Serge Pey, Ghérasim Luca e Bernard Heidsieck e edita a revista literária Confraria. Suas páginas são www.marcioandre.com e http://marcioandre.confrariadovento.com
 


 

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