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roberto alvim
diário de guerra
Alguns livros altamente
recomendáveis a quem não compactue da idiotia coletiva contemporânea: ONDA
DE CRIMES, de James Ellroy, conjunto de histórias do maior autor noir
americano, incluindo aquela em que remói o assassinato de sua própria mãe,
crime que permaneceu não-resolvido e que deu voz de escritor a Ellroy;
GLAMORAMA, clássico instantâneo do grande Bret Easton Ellis: modelos,
champagne e corpos humanos estraçalhados no Cafe de Flore; 1933 FOI UM ANO
RUIM, do pai-de-todos John Fante – humano, humano, humano...; A GORDA DO
TIKI BAR, do Dalton Trevisan, safado e divertido, uma hora de masturbação
satisfatória ou seu dinheiro de volta; e TERRORISTAS DO MILÊNIO, do gênio
J. G. Ballard, abrindo mais um bolsão de imaginação onde não prevíamos ser
possível. É isso aí, amiguinhos: TV e cinema fedem; literatura ainda é a
maior diversão... *
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Mas o mais interessante
no filme é observar como Modigliani e seus companheiros, os grandes (e
razoavelmente obscuros) Soutine e Utrillo, entregavam-se a suas visões de
mundo e delas não abriam mão nem sob tortura (morrem todos loucos,
internados em manicômios, alcoólatras, drogados, marginais, mas fiéis a si
mesmos). Modigliani via as pessoas de um jeito muito específico e as
pintava dessa maneira; poderia pintá-las de um modo belamente tradicional,
tinha habilidade para tal, mas não o fazia, não podia fazê-lo... Preferia
passar fome, ficar doente, morrer, a trair sua arte. Não era um discurso,
era sua vida inteira. Por quê? O que o movia, que valores? Hoje rotulamos
essa atitude como romântica e nos abrigamos em nossos aquários de cinismo
e pragmatismo, nos localizando saudavelmente operacionais em nosso
fantástico mundo de serviços... Que força movia Modigliani, Soutine,
Utrillo, Renoir? E por que essa loucura não faz parte de nossas vidas? Por
quê? *
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Mulher. Coisa rara de
acontecer. E, quando acontece, coisa rara de dar certo. Um bicho
escorregadio, aparelhado de silêncios imprevisíveis e pequenos objetos
íntimos esquecidos de propósito pela casa. Tudo premeditado – o perfume na
fronha, os brincos sobre o criado-mudo – pra tornar ainda mais pesada a
solidão que deixam no seu rastro depois que batem a porta atrás de si, pra
nunca mais...
Roberto Alvim, 30? anos, é dramaturgo, diretor, ator e professor de História do Teatro na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras). Autor de 11 peças, seus últimos trabalhos no Rio foram: PELECARNESANGUEOSSOS, Todas as Paisagens Possíveis, Qualquer Espécie de Salvação, Às Vezes É Preciso Usar um Punhal para Atravessar o Caminho, Vagina Dentata e Mundo Pânico. Atualmente exerce a função de Diretor Artístico do Teatro Ziembinski. Ele nega saber de qualquer esquema rolando na editora Confraria do Vento.
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