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lauro marques


balada para um morto
 

 

 

Intro III

 


Eu quis o aço,
o gosto áspero dos metais

Não me foi dada a primavera.

“Põe teu fêmur sobre a pilha e incinera!”
          – Gritei

          (Cega pela luz a faca enterrada
                    no peito
          à noite sangram os girassóis)

          Como se fosse a aurora,
                    a luz que ilumina o bosque
                              o homem
                                       A G I G A N T O U – S E

E perdeu a forma
 


O orvalho esquecido das horas tardou
E a cigarra cantou os versos de outrora.

 

 

 

Balada Para Um morto
 

 

I


Ainda preso à praia:
“Em que porto distante, nuvens, repousará
minha armada?”
Cruzam silentes os barcos insones em manobra
(na praia)
“Jus fará ao meu nome?”
As nuvens são nações de ódios
“Ah, venha tu, ó morte abençoada!”
(Faz calar a multidão dos cantores)
“A música das esferas!”

– Partem as nuvens em fuga
– Música que cai como chuva –
– Num país distante.
 

 


V-descida
 


Luzes fugidias de aço cintilante,
punhais metálicos de frio,
melancólicos pontos cortando vastidões.
Tristes senhoras cingidas de véus,
nuvens,
lançando-me olhares,
atroz.

“Sombria sensação”.

Subida ao cadafalso.

A contemplar,
filão de cidades re-esquecidas,
pulsos ratificantes,
rasgões de seda no véu da nuvem-estrela cinza
mesclada de chuva
de noite vestida
O parapeito aberto de mármore
os braços apontando,
direção.

“O vento sente o cheiro da carne.
E o meu suspiro é beijar-te”.

“Sombria sensação”.

Descida.

 

 

 

IX

 

“Readiness is all”

– Hamlet, Ato V, Cena II
 


Arde um gosto acre ao respirar as narinas
de cavalo avantajado em fuga
A fumegar – nuvens de areias escaldantes

(Retorcidas as últimas apedrejadas
primaveras intactas)

Toque ao celebrado momento o galope
que como um raio vem retirar-me
e lançar-me no imenso teu corpo vazio

(Uma lembrança há muito regateada
um abraço, forte como um coice –
em disparada):

“Habituado que estou a pisar em espinhos
não reconheço mais o odor das flores.”

 

 

 

Pequenas Baladas
 


1

Querer ser outro
Cortar campos e comer trigo
recém-colhido
pela mão –

Ir ser infeliz em outro
Canto.

A magia?
A magia é estar vivo
para o mundo
Dizer para si mesmo e bem
alto:

Eu valho tanto,
que me acalmo
em ser eu mesmo.
 

 

4

Não,
Essa ânsia não será interrompida.

Nem essas cadeias de aço.

Procuro um palco,
Dê-me espaço,
eu lhe mostro os dentes.

Eu bebo essa água ardente.

Eu não meço o grau das palavras.
Eu não procuro o Graal.

Eu não peço escravas

Peço almas

Peço salvas

De palmas.
 

 

6

 

—Quem agora cem rimas não tiver,
Eu aposto, sim,
Estará perdido!

(Nietzsche)
 

Aqui rolam-se
essas pedras
num passar de águas
claras.

Aqui pranto e
acalanto
se irmanam
em ribanceiras
rasas.

Para onde o refluxo
(quando acaba)
qual nascente
hino,
sagra.
 

 

 

Tríptico de Bacon

 

I

O que esconde esse teu rosto
Que não podemos fitar?
O que procuras dissimular
exilada num córner qualquer triangular
e encurvada?
(Uma ressaca brava...)

Por que olhas esse ponto, por quê?
Porque pareces querer voar
– mas não podes –
anjo torto
e contorcido
a lembrar uma mulher

que amamos um minuto antes
de nos desesperar.
 

 

II

De olhos vendados
A Fúria
GRITA

Seu nome

Um passeio pelo paraíso ou
Inferno
de delícias.
 

 

III

Grita mais
Grotesco piano de cauda
Em carne e osso
A espatifar melodias
de som mudo pelo ar
Grita

de dor, alegria, remorso, culpa
ou gozo
ou apenas
Grita.
 

 

VII

Força herculínea
Ou
Frágil –
Idade

"Tenho uma galáxia dentro de mim"

(Ri)

"Ritornare".

 

 

O leopardo
 


O som de um farrapo
sendo rasgado

violento e rápido
como um relâmpago

O LEOPARDO
          CAI
cai sobre sua vítima:

antipessoal, mas não antipessoa.
 


 

Prece


Não sabes a que veio, não Tu
também não sabes o que fazes
Aquele só saberia da garganta
aberta, à hora em que o nó apertasse...e
Liberta o sol a sombra que move e
esconde a serra que sobe por detrás
                                                 da névoa
quando chove.

 

 

LAURO JOSÉ MAIA MARQUES é paraibano de Campina Grande, doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo, pesquisador de Estética e Pragmatismo. Publica na Confraria, pela primeira vez, poemas de seu livro ainda inédito Balada para um Morto enquanto prepara outro, também de poesia. Edita um blog, onde quase freqüentemente expõe seus poemas: http://amacula2.blogspot.com.


 

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