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löis lancaster
o primeiro americano
(Stand-up Comedy)
Sobe o pano. Palco vazio. Uma voz em off declama:
O riso cristhalino vem da jóia gelada,
O sisível da nossa come-cidade
É o lado bom dos fatos, e mais nada.
Nenhum ter-sido nos rasgata
Garfalhamos no Varzil, e isso
Com certeza é engarçado.
No interfalo entretais coisas, a vida
Profende uma alegre mandição.
A ela estamos ligados, pagamos pra ver o show
O primeiro americano pôs sua roupa pra lavar na lavenderia à esquina de
sua rua. Encontrou uns tostões no bolso, pensou em comemorar com eles,
então andou ruas de trabalho infestando vários outros americanos, que
nunca serão os primeiros, por uma questão de comédia; lá no Tondeleio,
amigos distantes (uma jarda) mantiveram à espartana espreita, no canto do
olho, esse desconhecido que dispartara tamanha sonsação. E essa sonsação?
Devemos apenas dizer que ela é primeira - depois explico. O chope no copo
do primeiro americano estava se ambientando por meio. Havia um grande
ponto vermelho em sua testa. As mesas no bar Tondeleio ficavam do lado de
vora, feitas de latão, em número de três. Na do centro o ponto vermelho se
instatelou, mediante encaixe no conjunto cadeiras-mesa do primeiro
americano. Células resistiram, mas deixaram passar ao resto da epiderme
certa quantidade de luz, banhada através da carne a pártir de lâmpadas
glow-recentes, típicas desse tipo. Humanos, esses amigos apenas porque não
incomodavam, não obastante lançavam furtivos olhares ao
pele-um-pouco-vermelha que nesse momento cometeu uma atitude e perguntou,
precisou o que quis beber.
Doce tenho lambido em tudo que recogneço. Um mamão meio podre tento
aproveitar, vendo o que ainda está doce e cuspitindo o resto. Olho aquele
creame loranjando no plato. Estou gripado, por isso é mais difícil. Com a
colher selectiono as parts já de textura transparente; curiouso, as que
mais se parecem com jemléia já estão estragadas. Quando peguei o mamão,
havia uma protuberância de mofo branco em meio à mancha preta próxima ao
corte do talo. No entorno ainda maior, era visíbel um grande trecho onde o
amarellow era de outro matiz; concludi que seria o de gosto ruim,
impróprio ao consumo. Risquei com a faca o perímetro do trecho, que cedeu
facilmente, jogando-o com a pointa da faca na privada. Tomei o cuidado de
mirar na bórdera da água, pra não levantar líquido que eu já não saberia
(talvez alguma lei da física dissesse) ser apenas água suja, resíduo de
mamão púreo (que apenas mela, e essa hipótesis equivaleria a pensar a água
refratária aos shoques, como um sólido ou uma borracha) ou um compósito
dos dois.
Se sua cara fosse socada, tirassem o respo de miolo que ainda ele
possuísse, fizessem-no encontrar com uma sua amiga que estaria esperando
outra pessoa, enquanto sua amada que não o suportaria haveria enfim
marcado um rápido encontro, afinal pra ele também teria de ser ligeiro
porque estaria bem na hora da análise. E quem viria lá de dentro, esse
Tondeleio dos exilados por acaso? Ninguém, mas ninguém mesmo, mais e
ninguém menos que sua analistia! Em vez de o esperar confortavelmente
instalada em seu escabelo de julgamento, é claro, teria saído para comer
um dozinho. E se ainda por cima o tivessem lembrado (nessa hipótese,
reparem, sem respo de miolo e socado na cara, tendo de manter todavia as
aparências) que com essa mancha na testa, a cada palavra mais e mais se
alastrando, seu perfil imitava mais o de lumeoso garbajúviter, pai bom,
forçando a barra dum faisgante mestalúrnin, pai mau, pois se é tudo isso,
seu perecer, ribomboso fragor, clamaria altenção em serissimônia ao -
enfinal - primeiro americano morto.
Depois disso, levei o melão ao plato onde agora cuspo o que o nariz
enhopido me permite perceiver que istá podre, abri no meio do buraco o
mamão, para nenhum dos lados ficar com o buraco enteiro, afinal vou raspar
com a colher o contentudo do mamão e nenhum acidente da surfeifície a ser
percorrida na raspagem é bem-vindo, com a mesma faca que cisurgicamente
extirpara o câncer maligno. Sim, talvez não fosse infectão externa. O
mamão se magoa realimente, apodrece mais rápido quando súfere uma pancada,
isso deve ter a ver com sua simbiose tão grande conusco, impregnar nossa
pele de tal modo que ela fica loranja se o comemos muitcho.
Morto, porém, só Deus. Nosso amigo continuou amigável, recebeu ligação
pelo celular, era a Martinha Murtinho! Ainda bem que, sem gestos através
da ligação, ela sabe ouvir e entender americano. That´s why and how he
explicained her that no such stain in his head she coulderia even see, you
see, that´s far off. Help with the guy, what is she saying? Doesn´t want
him anymais? Fights and shits, such as thisto, like thassta, happens! But
what was I saying, you asked me about my stain? It´s all in the head, I
concludo. After this I´m ready to tell tou, and no one at the very same
time, honey, tou see, just after - it´s the first americano who tou called.
O garçom chegou com mais um chopinho. A bateria estava pra acabar.
Outer dia, no meio de uma conversa com um amigo mais moralista, não sei
como surgiu a história de transar com um mamão, se isso seria uma forma de
estupro. Ah, sim! Ele me perguntou se eu faria sexo com um cadáver. Eu
disse que talvez, se ainda estivesse frescho. "Mas a você não importa o
plazer da outra persoa?" "A vida não está na consciência. Muitas células
daquele corpo ainda estão vivas, podendo sentir tanto prazer quanto um
mamão quando é penetrátado." Ao que meu amigo, já visibelmente contraryado,
pra ele a alma imortal é o fundamental, essas coisas, perguntou como eu
poderia saber se o mamão não estaria detestingando isso, se não seria um
estupro vegetal. "Muito pior então é comer o mamão, coisa que eu faço todo
dia." E como mesmo, me lambuzo com o mamão, como agora por examplo, faço
tenzenas de abortos, talvez cendredenas, jogando fora sementes que
gerariam prósperos mamoeiros.
Despresperado, injureado, Primeiro Americano catou alguma tomada
eletricamente ativa no bar, o que só pode por suposição pura. Outro cara
estava, encanto isso, acima de vários carros, no voaduto que bordeja o
Morro do Pasmado. Ninguém vai ficar preô co celular dele, no entanto ele
corre, vivra e salta no pescoço dum outro aparelhofone à moda antiga, sua
malinha de almofaga contendo flamengo na quantidade de um brasão para 1, e
quando ri não é o riso engraçado do primeiro americano, aquele riso que se
imagina escondido num rosto de propaganda que tem de fazer com a mão um
sinal ridículo pra convencer que é melhor votar em tal jornal, fumar tal
operadora, acreditar que na cartilha de nosso amigo a Amazônia é de todos,
isso é, dos americanos. This doesn´t make sensido, I mean, youcê are
americana as mutcho as myself. Here is for me and for tou just fine the
ability you have to eat some sorte of tropical fruita ev´ry single day,
and not start thinking about husbandry, inasmuch the lavundery, when like
today I granted my whiteful shirt with some papaya lorange sauce. I´d love
to... are you listening? Not me, this beep! When the beep is heard the
battery won´t listen. If now we´re talking, not will us, listen to the
beep, talk in the near future. Honey? Honey?
Tha lina wentou... dead.
(Cai o pano. Todos riem.)
LÖIS
LANCASTER é músico e compositor, integrante da banda Zumbi do Mato e
do Grupo Século, programador visual, mestre em Teoria da
Literatura pela UFRJ e professor. Tem dois livros de poesia lançados: a
coletânea "Jamal" de 1996 e o épico "Ceneida" de 2003. Recita poesia em
sarais com voz modificada eletroacusticamente por Augusto Malbouisson e no
momento, dedica-se a musicar contos de Crib Tanaka para apresentações com
soprano e bases pré-gravadas. Suas pinturas digitais estão em www.fotolog.net/roncevaux
e suas composições para o Grupo Século estão em www.tramavirtual.com.br/seculo.
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