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vicente franz cecim o cesto e a lança, um fragmento
e tendo dito isso Oniro,
quedas que sempre ondulam diante de um homem.
Mas como farias isso, se fosses um só?
duplo Orino.
o?o ondulam diante de um homem, leva contigo o teu Amigo, aquele que irá cuidar de ti se caíres, te erguendo com mãos longas de amizade e novamente te pondo mais
próximo do céu do que estiveste como ser caído na terra: e é isso a
Amizade da coisa em si pela coisa em si, que também balbucia em nós, como
em nós balbucia, querendo nascer, a Amizade da coisa em si pelas coisas
que as outras coisas são em si fora de nós.
Se caíres, pede:
- Amigo, me ergue.
Se tiveres sede, diz:
- Amigo, me dá de beber. mas com olhos muito abertos dentro de ti que não querem porque não querem se fechar, nessa agonia de estar desperto sem remédio que às vezes tortura um animal humano, implora, com voz infantil:
- Amigo, me põe para dormir
Entendes? Isso? Ainda que sejamos em nós oos? a vida sempre põe diante dos passos de um animal?
Pois, e se caíres? E se tiveres sede? E se tiveres sono sem sono?
a oculta com luzes.
não, não é ela, a que se afeiçoa às noites e nas noites te abandona
Essas são coisas que ainda não tens e precisas construir com as tuas mãos,
de lã e luz, para esse teu longo avançar apenas tu, o Sozinho, pela vida Mas como farias isso, se não tens ainda o teu Cesto e a tua Lança? Pois o que eu te digo é, sob este céu de estrelas negras:
senta agora mesmo e tece o teu Cesto com tua mão de lã e palha, a Serena,
e talha a tua Lança com tua mão de luz e lâmina, a Sangrenta, e guarda
contigo o teu Cesto e a tua Lança, Orino. entendes.
E como farás isso? Se indo através desses desvios um para a esquerda e outro para a direita que sempre dividem o caminho diante de um homem que vai, o um em si, sozinho, estiveres levando contigo o teu Cesto e a tua Lança,
- Cesto,
te deixa ficar onde estás, sem mais um passo, senta ali mesmo e fica
re-tecendo o teu Cesto com tua mão de lã e palha, a Serena. E usa o teu
Cesto para ficares só contigo fora da vida por fora em silêncio e calado,
o Quietamente, desnascendo-te, sendo-te fora do ser-te, entendes.
- O caminho será este ou aquele?
- Lança,
lâmina, a Sangrenta entendes
Entendes? através desses desvios um para a esquerda e outro para a direita que sempre dividem o caminho diante de um homem que vai, o um em si, o Sozinho,
sem teu Cesto e a tua Lança, ah, esses desvios, uns abismos para os lados, no ar, sempre ao nosso redor, um à esquerda, o outro à direita de nós, esses que vão, os uns em si, sozinhos,
e o teu caminho se abrir,
então te salvarás se usares o teu Cesto para ficares só contigo fora da
vida por fora em silêncio e calado, o Quietamente, desnascendo-te,
sendo-te fora do ser-te, entendes entendes
Pois se a vida é um Rumor que se abre em rumos
Não se incendiasse ainda mais aquele corpo em chamas, se ele, Orino, cedesse à tentação de lançar nele a lenha humana do seu corpo
Se veria de longe aquelas chamas. como Orino. Sim, pois se Orino havia se afastado com medo de ter suas lenhas incendiadas, ele havia ficado ao lado de Oniro, o omem de areia e queria ao menos uma gota de água amarga em seus olhos para poder apagar aquele fogo. Mas nos seus olhos, só lágrimas de areia
- É essa a serpente em adiantado estado de vertigem: a vida
Esse sozinho corpo faz sombra de si só por Ter companhia
Onde? Aqui
Ainda se diria Oniro Depois, foram muitas aves de rapina pousadas em nosso cérebro querendo que nós fôssemos homens
VICENTE FRANZ CECIM é jornalista, escritor e cineasta, nascido em Belém do Pará, Amazônia. Em 1979, iniciou sua obra: o não-livro Viagem a Andara oO livro invisível. Segundo ele, revelado através dos livros visíveis de Andara que escreve. Sob esse título, foram publicados 7 livros de poemas em um único volume (iluminuras, 1988). Agraciado com o Grande Prêmio da Crítica da APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte, publicou o volume Silencioso como o Paraíso (iluminuras, 1994), reunindo mais 4 livros. Em 2001, lançou Ó Serdespanto (Íman Edições, Lisboa) com 2 novos livros de Andara, apontado pela crítica portuguesa como um dos melhores livros do ano. Já sua filmografia conta com 6 filmes, entre os quais se encontra Maráa Yaí Makuma – Aquele que dorme sem sono (2007). Clique aqui para assisti-lo. Os poemas acima são inéditos no Brasil.
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