
ronaldo ferrito
a via excêntrica
Studium
Na quina
do canto do
quarto
pende-se
a vela:
casulo de esperma com glande de fogo
que
(na dobradura parca da parede)
desabrocha a úmbria borboleta
e
ilumina
o erudito,
o desentranha-palavras do livro,
com o que sustenta
a mesa.
Pathos
Para
engendrar os sonhos,
é preciso
encontrar metáforas.
Pathos é ser
pedra – coisa de fundo oculto
na terra;
como toda árvore,
saber
pr’onde
crescer
meus
troncos
sem saber
quantos.
A pedridade de cada pedra
é
a diferença do homem
desconhecido
(só repetimos
o que conhecemos)
As árvores não se conhecem.
As duas vias
Disse o oráculo
(na Porciúncula):
Ambos,
ao avesso de si,
buscarão o mesmo:
Tu,
o monge do mundo,
terás de partir lá fora
e escutar
do derredor
a voz das coisas
para saber de ti;
quando tu,
o monge cinzento,
hás de
ficar comigo
aprender a pôr cera
aos ouvidos
e
os olhos voltar para dentro
e escutar de si
a voz de outro,
para dizer-lhe
o que não és.
Ao primeiro, o doce será amargo;
ao segundo, o amargo se fará doce.
RONALDO FERRITO é poeta, ensaísta e um dos editores da Confraria.
Participou de algumas antologias de contos e poemas, como a Asas e vôos (Guemanisse,
2006) e publica com freqüência em revistas eletrônicas. Apresenta aqui
três poemas inéditos de um livro que prepara intitulado A via excêntrica.
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