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guilherme zarvos
pisa na chuleta
Então se acendeu a ira do
buzita. Justamente contra ele. O que se achava mais poderoso que Deus.
Perdoai, ó senhor, a ignorância da cabra. Mas dela vem o leite e a carne. E
a ignorância de Adão e ela e esta história de não saber qual é a da cobra
e do veneno. Menos problemas: a FLIP é que te pariu. O melhor foi a viagem
de ônibus. Imagine um dia radiante de inverno quente e olhos leves de quem
está indo. Passeando pela Av. Brasil, tendo passado por um CIEP, um Brizolão,
tão desfigurado, num alaranjado e ocre com nome do Jefferson, não o
rechonchudo, o brilhante avançado liberal lá do Norte, escrito em letras
garrafais, Jefferson ficaria encantado, fiquei também, mas se a moda pega,
o escritório do Oscar Niemeyer tem de olhar. E o Chefe dos CIEPs deve
publicamente dizer o porquê de nunca utilizarem as piscinas da escolas.
Foram, inclusive, projetadas para que fossem abertas nos fins de semana. Na Baixada Fluminense, nos anos 80, tinha muita criança, naquele soléu de
verão que nunca havia estado no mar. Não eram crianças apenas,
adolescentes também. Piscina para toda a família. E livros too, tatu.
Estou com saudade do João Luiz de Souza. Dividimos um quarto na FLIP. O
trabalho de criação de bibliotecas e de divulgação da poesia que ele vem
conduzindo é muito importante. Ele é do grupo dos convictos, mesmo que
pós-moderno. Na volta by busun compartilhei o banco com minha companheira
de PUC Ana Paula Mattos. Todos falavam de literatura: o engenheiro de
Vitória e sua bela mulher, o jovem magro da cheia de mangueiras Santa Cruz
e sua mãe enorme e o ex-seminarista, agora sem batina e armário, a contar
como leu poesia numa praia, para um pescador, na última noite em Para ti.
Ando tão à flor da pele, falou um poeta, pode ter sido Baleiro. E tão
feliz... estou indo embora... para Pasárgada... a passos largos... Aí ficam
dizendo, lá na FLIP, se as obras do Sérgio Porto, ótimas obras de arte,
foram queimadas ou não. Havia um sistema anti-fogo para o local das obras?
Um arquiteto, pode ser até o Secretário, que é arquiteto e que ficou muito
satisfeito de ter levado as obras para lá, se o arquiteto qualquer, o
infeliz, fez um projeto que pensasse que poderia pegar FOGO, FOGO, o
Sérgio Porto está pegando fogo, me escreveu um internauta e eu estava em
Berlim e fiquei desesperado, pois sabia que o arquiteto que não sabe de
nada deixou o lugar como uma ratoeira de DOPS – Domínio Organizado Péssimo
Sistema. Onde anda o Gil Macieira? Era uma figura importante na ditadura.
Falando em alta cultura, Silviano Santiago fez 71 anos e era a figura mais
bonita, João de Orléans e Bragança estava muito belo too-to, mas encontrar
Silviano nas ruas de pedra com seu sorriso encorajador foi delicioso.
Muito melhor do que ouvir escritor a falar que literatura não muda o
mundo. Os imundos. A minha vida seria totalmente diferente se eu não fosse
um ávido leitor. Os livros mudaram minha vida e de muitíssimos mais.
Este ano nós perdemos muita gente da alta cultura: Gerardo Mello Mourão,
Bruno Tolentino, Carlos Moreira, Agripino de Paula e Ângelo de Aquino.
Triste. Da alta costura aparece cada dia mais. Os editores são como os
parlamentares. Ficam superexcitados como zonzos. Têm de pagar a conta no
final e por isto se acham importantes. O Paulo Roberto Pires, na FLIP,
andava zonzado. Acho que ele anda meio tropeçando nas pedras. E sem motivo
aparente, o que é pior. Porém seu chefe, o Jorge Carneiro, é de uma
elegância fora do comum. Sempre foi assim. E o João Príncipe, abriu sua
casa com a beleza dos justos. Foi uma noite muito bela com velas e
conduzida pelo João Luiz. Tinha até vereadora, a Aspásia Camargo. Gosto
dela. Tinha bronca quando ela não defendia os CIEPS, mas agora é musa
poetisa. Tá na minha. Política de leitura e de liberdade. Ela e a Andrea
Gouveia, no mínimo, tenho certeza, são as que vão querer saber o que aconteceu
neste fatal incêndio do Sérgio Porto e ajudar a traçar alguma proposta para
o espaço quando este Macieira for para a iniciativa privada. Ele merece.
Fez o que quis, para quem quis e levará um penico de ouro para casa. Tenho
pena de secretários incompetentes. Inclusive o Conde, que prefere gerenciar
Furnas do que ser Secretário de Cultura. É dar pena de minhas penas. Eles
merecem. Outro dia até saiu notinha global elogiando o Maciera das
culturas e sua ignorância ao falar das sobras do PANICO de ouro e a nota
mostrando duas esculturas horrorosas. Do Sérgio Porto só silêncio.
Experimente enviar uma carta, uma amiga artista plástica o fez e Grobis
nem aí para a justa reclamação da Fabiana Santos. O que houve com o
Sérgio Porto queimadinho afinal? Ô Grobis, para além de elogiar o Secreta, sendo o
principal jornal do Rio de Janeiro para os mais, não é Maia, não,
interessados em contraculturasensssssaccionnnais, não comenta, ó cometa, o
que aconteceu, pois acabou-se o muro (...) porque reconheceram que por
intervenção de nosso (...) é que fizeram esta obras aos vinte e cinco dias
do mês de elul.
Cecília Palmeiro vai embora e a saudade fica. Este Brasil é um país que
não se manifesta, então vou de festa, mas com coisa dentro da testa, que
dizem que é lá que se instala a mutreta, das tretas, e sabibachões big.
Cecília vai aprendendo e ensinando. Esta argentina sapiente de literatura
em Princenton. Tem livro lá, ó meu. O lula ficará mais perfeito se der
início a uma política de fomento à literatura. Mas sem mediocridade,
autoritarismo e pão-durice. Acho que o Lula, apesar de extremamente
inteligente não entende a importância do livro. Nem o Gil e por
subserviência, nem meu amado Mautner, que ama ou amou os livros, fazem um
movimento de santo forte para uma política de livros. Tenho a certeza dos
pregadores. Insisto. Já vi várias pessoas modificarem-se completamente por
ventura da leitura. Em pouco tempo. Você pode educar com livros.
Praticamente alfabetizar. Oferte o Capitães de Areia para uma pessoa, mais
um Fernando Pessoa e o vício começa. A descoberta da inteligência é um
prazer melhor que o relaxe e goze. Claro que tem de dar umas, uma vez que
ninguém é só só e seu livro mágico. Parabéns para o Chacal e para a Paloma
Vidal pelo justo recebimento de apoio para a escrita.
Então fechou, je parlapatei. Tenho a fé inquebrantável que JK nos deixou e
que os olhos de Darcy solidificaram.
Mantende juízo fazei justiça porque minha salvação está prestes a vir e a
minha justiça prestes a manifestar-se.
OBS – Se a vaia ao Lula foi orquestrada, como notas e notícias no Globo
insinuam, é uma vergonha maior que a boca do Boris jornalista. O Maia não
pode ter tramado isto. Quem foi? Se está no Tube uma vaia anterior, quem é
que comandava a palhaçada? Vaiar sempre descarrega, principalmente no
templo da paixão e ignorância. O Maracá dormindo. Faz tempo que deixei de
me interessar por aglomerações alucinadas por esportes. Já vi muitas vezes
gente mijando em saquinhos, na arquibancada, e jogando gargalhando, na
geral. Bichos escrotos com seus saquinhos com escrotos. O que foi ruim
para o estado do Rio e a cidade do Rio é que desprestigiar um bom
presidente, com a importância internacional do Lula, é desprestigiar a
possibilidade de caminharmos, com a paciência de um líder operário, com a
inteligência de quem foi reeleito, sem trair o que realmente acredita, na
via democrática sem excessivo rancor. Não sou do PT, detesto os da
boquinha que estão em todos os partidos e muitos estão no PT. Só estranho
que o Maia DEM pai (dem pode iniciar democracia e demência), não vi, mas
quem estava lá viu, foi aplaudido. Estranhei. Estranhou? Se é raiva dos
políticos na euforia dos melancólicos que vaiassem todas as mães, pois o
poeta já dizia que apenas elas são felizes. Se é verdade que apenas Maia
não foi vaiado, apesar de não negar sua capacidade de mobilização e
respeitando seu cansaço por tantos anos no cargo que ele despeça o
puxa-saco que inventou a barbaridade e junto com ele quem até hoje não se
manifestou sobre o que afinal aconteceu com o Sérgio Porto. Adios do que
Maciota. É na iniciativa dos piratas que seu barco florescerá. Pode haver
arquiteto do ex-RioArte ganhando muito e sem teto? Vai vai para Paris para
um grande projeto financiado por quem foi financiado. Este famoso
troca-troca dos grandes. Será bom pratu. Aqui vai-vai ia-ia vir tu all.
GUILHERME ZARVOS é escritor, boêmio e articulador cultural. Publicou
Morrer (2002), Zombar (2004), entre outros. É co-fundador,
junto com o poeta Chacal, do CEP 20.000, pólo cultural que, desde 1990,
vem confluindo várias gerações de poetas e artistas do Rio de Janeiro.
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