|

|

rod britto
na tentativa de reler os mais vendidos
Atualmente, o que se observa numericamente, através dos pódios tidos como
especializados nas mídias impressa e eletrônica, é que os livros no Brasil
vendem cada vez mais. Títulos que se classificam como literatura, isso sem
dúvida, dado que estes são compostos em formato de livro, com um número
quase padronizado de páginas, permitindo a leitura natural, do começo ao
fim. Estes mesmos contendo distinções autorais ou por temas, assim o
enredo alcançado e, o que deveria ser uma justificativa, a priori, ao
primeiro impulso em lançar a público tal material, gerando e acirrando a
competição de comunicação – envolvimento de função também natural no
apanhamento das mensagens no tempo dedicado à leitura da parte do leitor,
os segundos, terceiros e quartos envolvidos no processo da publicação –,
isto é, o que se torna o diálogo entre o gerador dos códigos sugeridos
ali, este o primeiro envolvido e envolvedor ideal e, nesse caso, os seus
milhares de leitores posicionados nos centros do país. Daí, como resposta
imediata ou mesmo por reflexão mais demorada, um espaço para críticas de
toda ordem, já por natureza anti-uniformes, anti-ideais, consubstanciando
ao tempo em que vetando se não forem de acordo com a idéia-marco do
gerador, por isso mesmo, analisando sobre este plano, fala-se aqui em
“competição de comunicação” como o fator principal na distribuição dos
livros, como se antes uma exigência do fornecedor das mensagens a serem
lidas, passadas à prova do envolvimento muito mais do que a do alheamento
ou à simples cópia das fontes a serem passadas adiante. Aqui, envolvimento
nunca quis dizer tomar a parte do emissor, o escritor saindo-se apenas e
com toda uma importância como o primeiro estímulo, uma primeira sugestão,
o provocador, por contigüidade, de pensamentos diversos e que tais.
Então, afinal, quais são estes livros/títulos que vendem cada vez mais,
que chamam tanta atenção, adeptos nesses novos tempos das grandes
possibilidades da publicidade, seja nos ônibus que tem o centro da cidade
em seu itinerário, ou nas paredes laterais dos grandes arranha-céus em um
mesmo percurso, mas que preferiremos ainda achar que chamam mais atenção,
durante uma catatônica e velocíssima visita a uma das muitas livrarias de
rede, disponíveis também nos centros das maiores capitais, por parte
desses leitores/clientes, as tarjas elucidativas postas juntas às capas
dos produtos destacando-se nelas que só nos Estados Unidos ou na Europa
venderam-se milhões de cópias daquele mesmo livro/título, agora em mãos de
uma testemunha/vítima em potencial, já que esta acredita fielmente naquela
mensagem que a partir daí mesmo já pode valer mais do que a mensagem
contida no interior daquelas páginas cerradas e indiscriminadas? Antes
mesmo de se chegar em casa e encontrar aquele que deverá ser o tempo de
leitura enfiado no meio das outras mais importantes atividades do
dia-a-dia, após essa livre escolha da compra, em adquirir aquela premissa
publicitária respaldada pelas mídias e suas listas, a refrescar antes
mesmo de adentrar o pouso do lar, sugerida no semi-silêncio das pressões
sensoriais atiradas pelo mercado, seria agora ainda possível tal
competição de comunicação sugerida pelo autor do livro? Ou da parte deste
autor também jamais existiu essa tentativa estimulante aos seus futuros
envolvidos, os leitores? A sugestão publicitária já se bastaria como única
sugestão do livro? Ou seja, se esgotaria ali a sua capacidade como se
esgotam as 1as, 2as e 3as edições destes volumes? Quais são esses
livros/títulos? Livros de proveta; os detalhes diriam por si só, apesar do
pensamento inicial nas incubadoras fosse sempre o mesmo, como num aparelho
compressor de opiniões.
Não quero aqui acertar títulos, autores específicos ou mesmo as editoras
no Brasil que investem na expiação da verdadeira qualidade do produto em
favor dos números de venda, que cultivam essa cultura em seu particular,
apesar de cada vez mais se projetarem de uma maneira pública às classes
médias do país, podendo-se até dizer, sua tática de mercado, seus lances,
sua fé, a jogada da vez, seus proibitivos reais às competições de
comunicação, estas que se tornam cada vez mais perturbadoras, de seu
limitado e não menos lucrativo ponto de vista político e comercial. E como
não poderíamos acertar completamente como críticos numa competição
comunicacional que não se quer alheia, circunscrevendo-nos apenas a nós
(e, por incrível que pareça, por querermos que seja ela pública, cai mais
na particularidade das pequenas relações e guetos literários por culpa da
força íngreme do mercado editorial, contando outros fatores como os guetos
por capricho e opção), quem acerta são eles, os livros/títulos e seus
produtores, em conjunto, juntando aí os leitores/clientes que não poderiam
ficar de fora desta perseguição à lista exata dos mais lidos – seriam
negados talvez em uma roda social qualquer e bem parecida com outras em
que se falasse a respeito daquele produto e sua suposta e derivada
eficiência. Não fosse assim no Brasil, e os livros mais vendidos aqui,
como também nos Estados Unidos ou na Europa – somando os números mas não
duvidando que os problemas culturais prioritários destes não são iguais
aos nossos, por exemplo, na questão da leitura, do preço real e do valor
agregado, ou a do tempo disponível aos lazeres críticos – enfim, os livros
mais vendidos fossem menos de proveta como também direcionados não apenas
a uma ou duas classes, numa tentativa do discurso adicional, a partir da
competição de comunicação, esta sim incipiente e ideal só até o primeiro
momento, logo vindo um discurso na contra-mão da primeira idéia publicada,
nos sairíamos melhor no conjunto da sociedade, ela com suas disparidades,
tentando refleti-las, assim pelo ensejo de após entendido o código
sugerido deste ou daquele volume, podermos já buscar novas experiências de
conversas e afetos, novas tendências e ícones, que não somente os dos
grupos copiosos, ou mesmo arriscando-nos a não soarmos em uníssono
buscando aquela ou aquela aceitação e sensação sociais imediatas, que
associando-se sempre o valor de compra, o investimento em alguma cultura e
o tempo gasto para isso.
ROD BRITTO é
jornalista e escritor, autor dos livros Barriga D’Água e Os
Infames (junto aos poetas Guila Sarmento e Xisto da Cunha, os outros
Infames, que seguem em atividade, propondo leituras e linguagens paralelas
à poesia gentil). Participou também dos livros CEPensamento, pela
Editora Azougue, e República dos Poetas, uma Antologia do Museu.
Atualmente, é um dos organizadores do evento multimídia CEP 20.000.
voltar ao índice |
imprimir
|