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adolfo montejo navas


6 poemas instrumentais
 

 

 

I


Trata-se de modular o corpo,
quase imperceptivelmente,
para o reconhecimento da alma
esquecida talvez em outro lugar.
De uma prova que exige
alguma concentração, sobretudo
das partes dormidas.


II


Trata-se agora de saber encaixar
a falta de tempo com o espaço
que resta: de introduzir o adentro
afora. Dois tempos ou dois
espaços, como quando as coisas
e seu perfume coincidem.


III


Trata-se também de manter
uma distância conveniente,
talvez vários centímetros para
não chegar onde não se pode.
Um gesto leve apenas, como
uma respiração, pode mudar
a paisagem, como quando a pele
regressa a uma fonte mais antiga,
que já não pertence a ninguém.


IV


Trata-se de esquecer ainda
que se escreve, sobre papel
pautado, parte do prometido,
sem mais peso que a consciência
no território da pele, para
que as palavras chovam.
Por o preço de cada imagem,
vive-se, paga-se.


V
 

Trata-se de esperar assim,
das próprias estrias,
um atenuante de si mesmo,
uma fissura. Outra figura
de calma chamada a pensar
a arte da solidão. Porque faz parte
do conhecimento, ser recortado
pela câmara anônima
dos dias e das vozes.
Os ecos valem.


VI
 

Trata-se de uma prova mais
de resistência, ao olhar
encontrado de outro dia
que não quer saber nada
do alvo imaginado.
O verso está aberto
contra a parede, pedindo
sua mais terna pontaria.
 

 

ADOLFO MONTEJO NAVAS é poeta, crítico de arte, tradutor e curador independente. Nascido em Madri, em 1954, mora no Brasil há 14 anos. Publicou 49 silêncios (2004), Inscripciones (1999), entre outros. Realiza periodicamente mostras de poemas-objeto e poemas visuais.

 


 

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