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hagiwara sakutaro


gato azul

 

HAGIWARA SAKUTARO poeta e teórico da literatura, publicou dezenas de volumes de ensaios, aforismos e crítica cultural. Nascido na cidade de Gunma, Japão, em 1886, começou sua carreira ainda jovem, contribuindo com poemas para revistas como Nomori, que circulava entre os jovens estudantes, e para os jornais literários Shinsei e Myojo. Também músico, estudou bandolim e violão, com o intuito de se tornar um músico profissional. Mais tarde, fundaria uma orquestra de bandolins em sua cidade natal.


Poeta consolidado, juntou-se a Muroo Saisei e Yamamura Bocho na criação de um grupo editorial, Ningyo Shisha (Poesia Sereia), que deu origem a um boletim literário, Takujo Funsui (Fonte do Tampo de Mesa). Em 1916, Hagiwara ficou numa estalagem em Sakanoshita, onde conheceu pessoalmente o poeta e estudioso de literatura inglesa Hinatsu Konosuke. Nesse mesmo ano, fundou a revista Kanjo (Emoções) com Muroo Saisei, e no ano seguinte, levou a público sua primeira antologia, Tsuki ni Hoeru (com tradução para o inglês ‘Howling at the Moon’, Uivando para a Lua).
 Continuou a publicar mais antologias, tais como Aoneko (com tradução para o inglês ‘Blue Cat’, Gato Azul) e Hyoto (Ilha de gelo). Foi ainda um dedicado estudioso do verso clássico, tendo publicado Shi no Genri (Princípios de Poesia) e Kyoshu no shijin Yosa Buson (Nostálgico Poeta Yosa Buson).

 

Hagiwara, entre outras coisas é considerado o pai da poesia moderna coloquial e um dos introdutores do verso livre em seu país. Profundamente revolucionário, cultivou um estilo de verso próprio para suas incertezas acerca da existência, seus medos, tédio e ira. Hagiwara Sakutaro morreu em 1942, com 57 anos.


Completamente desconhecido no Brasil, Hagiwara tem sua primeira aparição em português
nesta edição da Confraria. Esta pequena seleção representa momentos variados de sua obra e foi traduzida diretamente do japonês por Hirofumi Nogami e Márcio-André.

 

 

bambu

na terra luminosa bambu brotando
verde bambu brotando
subterrânea a raiz de bambu brotando
raiz afilando terra adentro
da ponta da raiz cílios brotando
leves cílios brotando
leves estremecem.

na terra dura bambu brotando
da terra agudo bambu brotando
reto-cego bambu brotando
firme em cada nó congelado
abaixo do azul-céu bambu brotando
bambu bambu bambu brotando


céu azul

esta chaminé longa
como os braços redondos de uma mulher
estendida até o céu
o céu é um globo-arco azul-claro
não possui suporte de gravidade em lugar algum
esta vista é como um elefante
faz-nos sentir como um enorme e estranho sonho


gato azul

é bom amar esta cidade
é bom amar a arquitetura desta cidade
é bom vir para esta cidade e seguir os passos breves das ruas
e desejar cada bela passante
e desejar cada nobre vida —
cerejeiras alinhadas à beira das vias
também lá não cantam todos os pardais?

o que não dorme nesta grande cidade da noite
é a vaga sombra de um gato azul
a sombra de um gato que narra a louca história dos homens
a sombra azul da felicidade que nunca canso de perseguir
perseguir por qualquer sombra
eu anseio por Tokio mesmo nos dias de neve, penso
mas encolhido de frio lá no encontro das transversais
que sonho é esse homem, um desabrigado, sonhando?


flauta

no galho alto de um pinho um arpejo de koto,
calejando os dedos,
dedilhando o koto roto,
ah, dedilhando-o, a esposa de alguém – em duplo solo com seu koto
a venerável flauta dos céus
hoje no gélido-aberto céu da noite
tomando de luz o alto do pinho
melancólico, ostinato,
revelado a si mesmo, penitente.

a louvável flauta dos céus.


brotos


brotos lampejam no céu azul
uma criança cava a terra

para pegar brotos ainda não crescidos
saquei meus dedos brancos
do fundo de um regador de luz


morte

do fundo da terra eu observo
estranhas mãos despontam para fora
pés despontam
uma garganta se projeta
senhores
o que são sobre a terra essas coisas malditas
o que são esses gansos gulosos?
do fundo da terra eu observo
como bobo
mãos despontam para fora
pés despontam
uma garganta se projeta

 


 

 

HIROFUMI NOGAMI, japonês de Fukuoka, é formado em engenharia pela Universidade de Kiushu. Este é seu primeiro trabalho como tradutor literário.

 

MÁRCIO-ANDRÉ é poeta, tradutor, editor da Revista Confraria e coordenador do projeto Arranjos para Assobio, de texturas poéticas e realidades experimentais. Como tradutor, prepara a publicação de obras de Mathieu Bénézet e Serge Pey. Sua página é www.marcioandre.com

 


 

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