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edwin torres
uma gota de chuva empareda-me
EDWIN TORRES,
poeta bilingüe (inglês e espanhol), performer e xamã, é autor de vários livros, incluindo
Electrobabylist:
the popedology of an ambient language, The All-Union Day Of
The Shock Worker, Please e Fractured Humorous.
Surgiu, nos anos 90, com o “Spoken Word” no meio artístico americano e daí
por diante passou a ser referência na poesia experimental e sonora de sua
geração. Seu trabalho se configura entre o texto e a performance, unindo a
poética visual da palavra escrita com a improvisação, oral e física, os
elementos sonoros e teatrais. Formado bacharel em Design Gráfico no Pratt
Institute, faz parte da Fundação de Arte Contemporânea e da Fundação de
Artes de Nova York. Já lecionou no St. Marks Poetry Project, Naropa
Institute e em Bard College e atualmente é designer e co-editor das
revistas POeP! e Rattapallax, que inclui participação de vários artistas e
músicos brasileiros, ambas as revistas da Rattapallax Press. É também
apresentador do Live Nude Radio Theater (Teatro Rádio Nú ao Vivo) no WPS1
Art Radio. Nasceu no Centro de Nova York e vive agora em East Village,
também em Nova York. Estes dois poemas, inéditos em português, foram
traduzidos por Karinna Gulias.
I. Quatro
é como um sonho descoberto
alojado na memória de uma névoa de montanha
oscilando entre arbustos, denso como café de montanha
passos-de-culembra sobre folhas de banana-da-terra
gigante, orvalhos dourados
grandes como um primo de 5 anos
meninos sapo
voando com as libélulas na manhã de sol quente
altar de arroz cozido feito de fatias de manga
um abrigo que sorri uma estrada sem dente
onde carpete de seixos aspira as solas de seu sapato
junco-de-água flaussoa no ouvido de um pequeno
ele imagina outro mundo
num carpete de índios e desenhos de brinquedos impronunciáveis
en el mañana, a curva
do chicano está na consolação à bênção do aroma
uma salvação do lar, nas nuvens
lá está ela, nos acenando
em todo o sempre de seu tempo de vida
uma memória de momentos passados, vivos agora, sonhados então
mãe da borboleta
beleza de pai, desvaneça-me
nesse sol
No?
Si! me luna
mi sol-viento
esse sol-brisa agarra o momento
uno...dos...tres...quatro...
supre, sopla, sopre, ocho-nevida
siempre, simples, canta-me,
sensei en la noche, montaña
y no es mi vida, querida
me toca, medina
tan sangre de sante
escucha-me-shhhhhhhhh...
'xquisita
momento-ah-ahhhh-ahhhh-tatatata-TAN,
ahhh-ahhh-lalalala-LA,
lah-lah-lalalala-LA, tan-tan-tatatata-TAN
y-uno...dos...tres...quatro...
y-uno...dos...tres...quatro...
y
Capas de chuva envolta gotas envolta
Eu sou uma fratura para o mundo.
Minha jaqueta rajada me deixa
ensopar até inchar. O inchaço do mundo
tendo vindo dumm atropelamento
por um pneu veloz, movimento breve.
Muitas revoluções deram neste conhecido. Que bom
que estava se movendo, também... todo esse peso da
maquinapressão
muita fissura em ficar parado.
movimento junta poeira
todo tempo
há de emergir
todo tempo
há de parar
para dizer
movimento
perde
outra revolução
come o movimento
outra evolução
luta para perder
algumas pessoas permanecem em seu mundo
contudo o mundo continua seu movimento
dentro de você
Sobre meus anteolhos para a periferia
é colado um adesivo de corrida de carros
implicando velocidade e todos os seus acessórios.
eu sou apadrinhado
por direção sem título... eu sou pago
para pernoitar nas árvores nuas.
Quem será o protetor do adamântio
das crenças ocultas – Tema, estou de volta baby, tema!
Quem será o honorário pão-duro
dum súbito desespero –
Quando você ultrapassou fronteiras
de sabor, boa fortuna, e trabalho excessivo...
o que nos rodeia
senão montes de senão. Já
tropecei numa culpa esquecida por algum outro em
depressão – me acha
muito fácil... me conhece, muito bem.
Se transforma em um dos dez
dias mais amáveis – agindo
como filtro
entre mim e separação
mim e fado-em-vida.
Colheu os mais amáveis dias do ano
para abater-se.
Jogado contra uma
vida de vidro
eu insurjo
lucidamente arranhado – como cortes
agindo por impulso
– lá no fundo desse homem método.
Não posso mais me
mexer – tento – mas
isto me segue –
esse lugar para ficar – mas eu
me recuso a tirar
meu chapéu pra isto – pensa – me conhece – mas eu
sou rápido para
apontar – isto – não sabe – mas
isto concorda – e –
isto ri – sucumbe à fé –
fiandeira do
demônio – acusadamente serena – mas eu
sou isto – me segue
– e eu
não posso parecer –
perder sua trilha
o que segue você –
espera por você.
Tentando ter um bom dia
e em uma investida mortal
nimbo-cúmulo sinaliza pente sobre sua cabeça
enquanto tramas carpetefecais embaixo de você
O que ronda fica por lá
até que você o mova.
Estou tentando entender o carma
enquanto a chuva limpa o meu rosto.
Eu penetro em sua cabeça enquanto meu corpo
afogado no dia-a-dia – percorrendo percorrendo, o dia-a-dia
corre e conflui e corre.
Gotas de chuva formam paredes de tijolos
uma gota de chuva empareda-me – me mantém úmido
numa estiagem – quando as coisas vão bem, eu evoco
um pouco daquela típica e remota distração... chuva
me lembra que razão
é – era – minha – suposta a ser.
nesta ensolarada abstinência – eu me deixo dizer
eu entendo o carma
enquanto o meu casaco
derrete numa parede de chuva.
KARINNA GULIAS
(tradutora) é
formada em Inglês pela UFRJ. É produtora gráfica, tradutora e poetisa.
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