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jan-fev 2007


 

“Quando ando pelas ruas do Rio e de Salvador, os signos corporais transformam meu corpo europeu num outro ser”. Isso foi dito por Henri-Pierre Jeudy. Quando esteve pela décima vez no Brasil, em 2005, e lançou seu livro Espelho das Cidades, o filósofo-sociólogo-escritor pensava na espetacularização das cidades como mote de suas propagandas. Hoje, na Confraria, ele pensa no último cigarro fumado pelas ruas, ilustrado por Paulo Ponte Souza, ao mesmo tempo em que celebra conosco memórias de Arnold Flemming, militante da vida, escultor de verdades e mentiras belas. Cuidado: este Flemming não é aquele da vacina, este talvez seja o próprio vírus!

Clicando num ícone do desktop do passado nos deparamos com o naipe afro-cubano de Buena Vista Social Club e sua sensualidade, não vemos Habana Vieja espetacularizada. Seremos videntes e veremos espectros. Ghosts de um mundo antigo, de fausto apócrifo, de riquezas saqueadas, ruínas da história. Wim Wenders o gravou em vídeo digital. A tecnologia mais avançada resgatando a tradição mais conservadora. Seria o ouro sobre o barro, ou o barro sobre o ouro. Ou o diamante sobre as asas, ou o desejo do ouro e a necessidade de possuir asas, sei lá. Wim Wenders e Jeudy dialogam nesse número de nosso devaneio. Um, assassinando tabagistas, e o outro, colocando anjos sobre a cidade.

E como a música entra por um ouvido e engravida o outro, lembramos de Gerardo Dirié, compositor e poeta. E atenção: lembrança não como ruínas escondidas na memória circular. Algum filósofo já disse que lembrar é vergonhoso, pois só se lembra do que se esqueceu, do que se sepultou. Não é o caso desse Gerardo, nem de outro. Somos nós os esquecidos neste continente do português, nós os esquecidos pelo resto do mundo, que se comunica. A música é verde, esperançosa e a dele desce sobre nós — os nossos mais misteriosos nós. Música para limpar a cidade, para varrer as casas, para descongelar os olhos. Que o diga o guardião da arca Hagiwara Sakutaro, com seus meandros poéticos, esquecidos na ilhazinha do sol nascente.


Uma outra história misteriosa é aquela de quando os negros tomaram Cubatão e sanearam seus horizontes. A afirmação, diga-se, é dúbia. A antiga boate Crepúsculo de Cubatão era bem a metáfora. Assim como à pergunta “ — Faz-se poesia em Bagdá, hoje?” toda resposta será tardia e ruidosa, a presença de Marcelo Ariel, oriundo dos negros de Cubatão, e de Nelson de Oliveira, nos fez pensar na pergunta mais instigante e insignificante: — Qual Geração 90? Senhores, queremos agradecer o ano que passou, queremos conceber o ano entrante, queremos perceber as passagens e as reentrâncias, queremos perecer perenes. Modestamente, não queremos ser “manuscritos de computador”. Bon voyage!


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