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nov-dez 2006


 

“A terra é redonda como uma laranja”, afirmara José Arcádio Buendía à sua amada Úrsula. Esta convenceu-se de sua loucura, mas Macondo cumpria sua saga e nada poderia deter a civilização. Perplexo diante das maravilhas trazidas pelos ciganos, entre elas um tapete voador, Buendía idealizava instrumentos, solitário. Seu modo de ver o mundo, circunscrito aos limites de sua aldeia, tornava-se um elemento incômodo à vida pacata e leve dos seus conterrâneos. A citação de Cem anos de solidão é apenas para receber seu autor, Gabriel García Márquez, em nossas páginas virtuais.

Se a loucura é uma marca de exclusão, seja ela, a loucura, doença ou saúde mental, nós adentramos os seus labirintos. Se alguém viu Estamira, Marcos Prado, seu diretor, vem até nós, através de suas fotos do lixão de Jardim Gramacho e de seus loucos a céu aberto, ilustrando, em nossas páginas, a auto-exclusão dos excluídos. Enquanto a Stela do Patrocínio reencarna, ao avesso no tempo, a Estamira de outrora e de sempre. Entretanto, olhando pela janela, fica-nos a pergunta imutável de Augusto dos Anjos: “Para onde iremos, montados nesse cavalo de eletricidade?” Sabe-se apenas de uma parada gay sob bombas em Jerusalém. De um Papai Noel pedófilo, preso em Nova York. De uma bomba-atômica testada com sucesso na Coréia do Norte.

Não há de ser nada. Allen Ginsberg, hip excluído de um mundo "quadrado", eivado de uma oralidade contundente, fala-nos de um tempo sem tempo para uma poesia sem amarras. A música de Iva Bittová e a narrativa de Wiltod Gombrowicz, também excluídos pela distância e exotismo do leste europeu, apresentam-nos um cenário entrecortado por adagas mágicas, fecundado por figuras lépidas e acordes dissonantes.

Antes do Natal, antes do Ano Novo, ouçamos atentos os conselhos dos tarólogos: aprendamos com quem dá as cartas. Se cartas marcadas, se cartas na manga, se cartas de navegação: sejam todas epístolas de bem-aventurança, de boas novas. Todavia não esqueçamos que haverá sempre um lugar em que nada se cria, nada se transforma e tudo se perde. Não seja aqui. Vamos nos lembrar, neste último número de 2006, que a Confraria cumpriu sua sina de circunavegadora. Não arriou velas, não baixou âncora, não quis qualquer porto. Navegar será sempre preciso, viver é que é impreciso!

Os editores


 


 

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