Um
milhão de amigos
O nosso Brás Cubas, o herói de além-túmulo machadiano, cita Stendhal, que
escrevera um de seus livros esperando ser lido por cem leitores. As
memórias póstumas, para Cubas, se tocasse os cinco leitores já estaria de
bom tamanho. A Confraria comemora neste número a faixa de 1 milhão de
acessos. Num tempo de bilhões de cópias vendidas, isso pode parecer pouco,
mas ainda é um marco para qualquer revista eletrônica de arte e
literatura, sem atrativos mirabolantes, exceto a palavra e a imagem
incomum.
Ter muito leitores, entretanto, não é testemunho de qualidade. Páginas de
auto-ajuda, romances-arapucas, códigos-bombas, programas de tv
melo-ridículo-apelativo-viscoso-dramáticos, pseudo-profundos-e-rasteiros,
alcançam muito mais. Sabemos que o nosso leitor é especial. Tem uma
característica estranha nesse mundo ciber: ele pensa do fundo para a
superfície.
As correspondências e contribuições nos chegam de todo o mundo, apesar de
sermos uma publicação em português, a língua mais periférica do eixo
euro-afro-americano. Nossos textos estão sendo citados em congressos e
bibliografias de diversas publicações de papel e virtuais. No meio
acadêmico já somos considerados um veículo de idéias de importância
ascendente, como se diria nos corredores, um veículo de peso.
Sejam bem-vindos à contramão. Não à contramão da história ou do intelecto.
Nosso viés é contramanufaturar a mesmice rodeante. Acreditem: não queremos
seduzir o leitor-visitante. A contramão é: o leitor-visitante nos seduza.
E seremos seduzidos apenas por dois cantos de sereia: o
pensamento-tridente e a ação-dialética. O mais sejam páginas abertas, ou
folheadas, para minorar as agruras do mundo-cão.
Os editores