Thomas
L. Friedman é um entusiasta da globalização. Para ele, o mundo está
melhor, achatado e igualitário, veloz e prático. Mas Friedman não é um
pensador, é um técnico da economia e da política, não perscruta as
instâncias mais profundas do mundo, apesar de conhecer sua superfície
maquiada: as grandes corporações, os arranha-céus, o capital volante, as
piscinas térmicas, os oásis eletrônicos e os sorrisos postiços em rostos
edificados nos bisturis mágicos do dinheiro de plástico.
Do outro lado desse entusiasmo estão os pensadores. Aqueles que vêem o
mundo contemporâneo como uma máquina errante, com motor potente, mas com
condutores senis e passageiros atônitos. Eduardo Portella e Boaventura de
Sousa Santos estão desse lado da fronteira. O primeiro, pensando as
vicissitudes da utopia, o declínio do progresso e as cisões, rasgões, da
modernidade tardia; o segundo, avaliando as intempéries sociais, o
desandar da carruagem de ouro e o pedido de revisão para o rascunho do
futuro.
As páginas virtuais da Confraria trazem os dois pensadores abraçados (e
sobrepostos) pelas promessas e mulheres das Cidades Obscuras, quadrinhos e
pensamentos de Benoît Peeters e François Schuiten, dois arquitetos e
ilusionários da mais vanguardista arte européia do traço desenhado em
quadros. Como todos poderão ver, depois do primeiro ano, nos
desinternalizamos. É a nova fase da revista de arte e literatura. Temos
trabalhado árduo e arduamente discutido nosso rumo.
E estamos aqui, na luta. Convidamos o poeta Aderaldo Luciano para
editarmos este número e navegamos com nossos protetores, aqueles que nos
lêem e incentivam, pelas cavernas ficcionais, poéticas, ensaísticas,
plásticas e musicais. Nossa trilha sonora fica por conta de Philip Glass
relendo Ginsberg e o phantascopia na cola de Paulo Ramos Filho, póstumo e
suicida prematuro. Só nos resta avisar: o mundo é vertical e o virtual
também é mundo. Portanto, tomem suas naves/naus, bólidos e torpedos,
charretes e elevadores, cuidado com as tubulações de gás, respeitem a
radiação uraniana e não percamos a memória.
Os
editores