A capa do livro de Tariq Ali, Bush na Babilônia (uma criança iraquiana
fazendo xixi na cabeça de um soldado americano), é um selo conservador, no
mais estrito sentido britânico, diante de Banksy. O grafiteiro pinta com
uma lança tão afiada quanto as espadas de Caravaggio. E quer cortar nossas
cabeças ilustrando este número da Confraria. Não somos João Batista, nem
Saddam. Soubemos controlar, com todos os elementos químicos possíveis, a
ira do subversor urbanóide de Londres.
Se Bruno Tolentino não cumpriu o trato e partiu cedo, Paulo Fichtner nos
oferece um pouco de justificativa sobre o poeta, enquanto Gustavo Olivieri
procura alienígenas ingênuos e in-óbvios, como um antípodo insular. Claro
que o hermetismo do que foi escrito aí à frente não pede explicar-se nem
entender-se. O objetivo mais aparente é jogar as palavras num muro
construído ali na Faixa de Gaza.
O mundo não está para poetas. Está para espoletas. Talvez por isso João
Rasteiro queira pensar a poética por um viés político. Mesmo que sempre
tenha sido assim é necessário dizê-lo insistentemente, todos os dias,
todas as noites. O sol deve dizê-lo, o mar deve dizê-lo. E quando Flávio
Viegas Amoreira grita ensimesmado diante do porto de Santos sua oração
mais lírica, nós pensamos que há caminhos pelo céu.
E realmente os há. Assim nos revela, phantascopiamente, o holandês voador
Arjen Duinker. Abraçados a Serge Pey, os meninos da Confraria iniciam um
novo ano de tentativas. Ainda acreditamos na palavra escrita. Acreditamos
na palavra dita. Na figura viva. Pensamos que desse eterno preto-e-branco
da vida, essa causa perdida, é possível extrair algo palatável aos olhos,
deglutível aos ouvidos, como uma furadeira elétrica de alto impacto a
cutucar as axilas da alma. Vamos comer com a Confraria. A mesa está posta.
Os editores