Chegamos, finalmente, ao segundo ano de existência da revista Confraria,
dando exemplo, segundo palavras de Roberto Corrêa dos Santos, de
obstinação, dedicação e qualidade, motivos mais que suficientes para
festejar com grande entusiasmo. Entretanto, este 13º número chega com um
certo nó na garganta, uma vontade de choro, uma tristeza contida. O mês é
março, o mês definitivo, quando as orientações para o resto do ano vão se
consolidando e algumas esperanças teimam em subir às árvores. Um
esperançoso fechou a sua oficina compulsoriamente. Gerardo Mello Mourão,
há exato um ano, batizava a Revista Confraria, ao ser homenageado em nossa
primeira edição de aniversário. Consolidava com sua escrita nossa
dignidade, ao tê-lo em nossas páginas. Gerardo, que anunciava naquele
número seu medo de morrer, caso terminasse O
Nome de Deus, sua última obra, não esperou que se passasse um ano, nem
esperou terminar a obra. E cá estamos, comemorando nosso segundo
aniversário duas semanas depois de sua partida.
Olhemos à volta. Será que esse nosso turbilhão de pesquisas, leituras,
releituras, conversas e convites, um dia haverá de abrandar? Já tivemos
vontade, passageira, mas real, de cerrar as portas de nosso ateliê,
distribuir as tintas e as telas, doar pincéis e espátulas. Gerardo
apostava na empreitada. Nos incitava a estudar japonês, a escrever sempre,
refundar nossa epopéia a cada número, a cada texto, cada ilustração. “Se
fecharem a porta, lança mão do maçarico e abre um furo no titanium do
pórtico”, talvez nos tenha dito. O certo é que celebramos nosso segundo
aniversário com a certeza de estar construindo uma alternativa,
professando a fé nos vivos.
Mas Gerardo gostava de festas e ficaria triste se não comemorássemos.
Seguimos o seu conselho e preparamos um presente ao leitor. Um presente
que se faz pela diversidade, passada e futura. Nesta edição especial, como
no ano passado, nos empenhamos ao máximo para oferecer um hino à
diversidade e à qualidade literária. A Confraria é de todos, por isso
juntamos em uma mesma revista trabalhos inéditos de Augusto de Campos,
Manoel de Barros, Nei Lopes, Silvio Fiorani, Silviano Santiago, Adolfo
Montejo Navas, Izabela Bocayuva e Raul Antelo. Trouxemos pela primeira vez
a escrita exilada de Svobóda Bachvárova, tudo sob os
textos-tecidos-texturas exclusivos de Lena Bergstein e sob a escrita
sonora de Têtes Raides.
Dentre as novidades, Roberto Alvim e Victor Paes, contribuintes de
primeira hora e colunistas fundadores, deixaram suas colunas (não a
revista). São bem-vindos Adolfo Montejo Navas, Guilherme Zarvos e Rod
Britto. Márcio-André e Aderaldo Luciano continuam mais fortes do que nunca
tocando suas colunas. No quadro funcional também houve alterações: Ronaldo
Ferrito foi promovido de editor convidado e coroinha a editor fixo, com
direito a foto engraçadinha e a doenças coronarianas.
E o melhor de tudo, além da edição cuidadosa, preparamos também, com a
ajuda da FUNARTE, nossa primeira festa de aniversário (que é também o
primeiro
encontro
entre editores e leitores da Confraria), a ser realizada no dia 7 de
abril, a partir das 17 horas, no Espaço Cultural Laurinda Santos Lobo, em
Santa Teresa, no Rio de Janeiro. A festa acontece dentro da programação da
IV Semana Cultural de Santa e contará com a presença de vários autores que
passaram pela revista. A entrada é franca e desejamos a presença de todos.
Para finalizar a lista de novidades, anunciamos também que em breve a
Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Editora Confraria do Vento
lançarão a edição impressa especial retrospectiva de 2 anos desta revista,
que até então só existia virtualmente.
Em suma, estamos comemorando nossa insistência. Gerardo está conosco e nos
equaliza aos imortais quando diz, pelo seu narrador, no livro Olhos de
gato: “Só Homero pôde ter a certeza de retratar um morto em seu
funeral”. Obrigado, Gerardo! Obrigado, leitores! Colaboradores, obrigado!
Os
editores