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mar-abr/mai-jun/jul-ago 2005

 

 

 

editorial 1,4 e 7: antimanifesto 1,3 e 3

 

 

Confraria é con-fluir de idéias opostas, sem buscar sínteses. Não procuramos respostas, preferimos a dúvida.

Preferimos as diferenças ao consenso que tudo dilui.

Arte é mistério, logo não nos cabe a pretensão de esclarecê-la. Ficamos com a divergência.

Qual obra não se cria sem tensão, sem desespero?

 

Na era das egogaláxias, dos gênios encastelados em suas verdades, Confraria quer as falsas verdades e as mentiras autênticas. "O que não existe eu invento", então, "inventemos uma realidade melhor", onde o meio acadêmico deixe de ser lugar de pasmaceira e de auto-afirmação. Construamos a academia livre, a academia do lúdico, da vida.

 

Ambos, o confronto por afirmação e o consenso, pertencem ao estabelecimento de verdades, ao lugar comum e à ferrugem.

 

Por isso, Confraria prefere a afta à espreguiçadeira. Prefere o movimento do caos à passividade dos sistemas. Prefere não ser lida com prazer, mas na hora do trabalho, com pressa, entre um serviço enfadonho e outro degradante.

 

Buscamos ensaios nobres, loucos, que respinguem de nódoa o nosso brim, que façam duvidar de nós mesmos, que redigam as coisas, e, caso reafirmem o senso comum, sejam reacionários. Queremos propor mundo, não informá-lo. A surpresa contra o nunca duvidar: sejamos o herói que na hora H foge ao soco, ao invés do covarde virtuoso.

 

Queremos acabar com mocinhos e bandidos, queremos o escândalo de ser os únicos a não ver o último filme do Almodóvar.


 

editorial 2, 5 e 8: partes questionáveis de um antimanifesto

 

 

1: Confraria é con-fluir de idéias opostas, sem buscar sínteses.

 

Pedimos desculpas a todos aqueles que concordaram em “co-laborar” conosco, pois serão, sem mais nem menos, altamente avacalhados. Muitos trabalhos serão incinerados, apenas pelo prazer proposto pela fogueira. Os publicados, não deixarão de estar sendo incinerados, nesse caso, em público.

 

2: Arte é mistério, logo não nos cabe a pretensão de esclarecê-la. Ficamos com a divergência.

 

Literatura é fazer divergir a língua. É o resultado estéril de um coito fibroso de farrapos da língua. É fruta só caroço. Esperamos que isto esteja bem claro e inquestionável...

 

3: Por isso, Confraria prefere a afta à espreguiçadeira. (...) Prefere não ser lida com prazer, mas na hora do trabalho, com pressa, entre um serviço enfadonho e outro degradante.

 

Aconselhamos não operar maquinário pesado após ler editoriais.

 

4: Qual obra não se cria sem tensão, sem desespero?

 

Manuel Carlos que o diga.

 

5: A surpresa contra o nunca duvidar: sejamos o herói que na hora H foge ao soco ao invés do covarde virtuoso.

 

Mas o que nunca faltará ao leitor é armadilhas.

 

6: Queremos acabar com mocinhos e bandidos, queremos o escândalo de ser os únicos a não ver o último filme do Almodóvar.

 

“Uma perspectiva de outra ordem que a visual. O correspondente ao milagre físico em arte. Estrelas fechadas nos negativos fotográficos.” (Manifesto Pau-Brasil)

 

 

editorial 3,6 e 9: depois de muito pensar as coisas, humildemente dizemos, enfim, ainda,  buendía

 

 

Certo, mesmo sem querer, retornamos ao momento da fundação: aqui estamos. A língua nos lambe, perversa e mutante, e se somos seu amante, seu verdugo ou sua vítima, é questão de gosto, dela e nosso. De qualquer forma, somos um casal. Ou uma família, o tipo mais sórdido de amor. Muitos nomes, muitas línguas, e nos sentimos lavados diante deste tempo para frente, prontos e perigosos. Que venham o emprego degradante e o maquinário pesado, que venham os socos, as verdades, os fingimentos, as brigas e a deliciosa arte da fuga. Tensão e desespero estão no nosso café da manhã, adocicados com o último filme do Almodóvar, que tivemos prazer em ver, um dia. Atenção, irmãos: correndo o risco de parecermos meio confusos, beirando a tolice dos bárbaros de sangue ruim, nos permitimos passagem. Percebam nossas palavras entre as suas, e adivinhem que nossas frases, e o corpo e o texto que engendram, seus gestos e as línguas que se encontram no ar são coisas novas e são velhas, e nós somos recém nascidos e cadáveres, reunidos sob o mesmo sol da festa-funeral literatura. Ela nos observa tesuda como um sol estático, meio caído, meio levantado. Como bem sabiam aqueles índios carinhosos, seu corpo tem de ser devorado em uma perseguição, vivo ou morto. Toda vez este sol se apaga, toda vez nos matamos, suicidamos, sangramos gargantas e vozes, toda vez (n)O(s) reinventamos. A literatura está morta, viva a literatura. Viva ou morta retorna nossa perseguição. Literatura, sol tropical em meio-dia de suor e cansaço, nossa sabedoria é que em nenhum momento se sente melhor a gravidade neste mundo de loucos do que entre o mel do suor e do cansaço. Enfim, depois de muito pensar as coisas, humildemente dizemos bem-vindos.

 

Bom dia.

 

 


 

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