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rita dahl


uma cidade de escadas brancas


 


O inferno

Uma estrutura concreta afunilada, com nove entradas
ao todo. O inferno é a contínua repetição de tudo,

sem que seja possível avançar. O inferno é gelado.
Para onde vão todos os gulosos macerados depois da morte?

O inferno está solto, um filme de ação ordinário,
os cristais fluindo das almas miseráveis que se agarram pelas mãos.

Talvez o inferno seja belo apesar de tudo.
Durante anos cheguei à conclusão

de que não há a igualdade nesse país.
Soa a campainha. Atrás da porta

dois mórmons bem trajados.
O inferno era gelado sobre a terra.

A caixa de comentários foi deslacrada naquele instante.
O inferno da família ou do paraíso, em qual

você pretende passar a eternidade? Tentei tolerar
a mim mesma e entender porque tenho saudades do

inatingível. O inferno verdadeiro dos anti-capitalistas
foi deixado de lado. O que acontece depois disso?

Sacrificamos seis garrafas, nada
acontece e temos de encher lingüiça.

Não se esqueça de que para um masoquista o paraíso é o inferno.
E é impossível saber se é quente ou frio.

Se o inferno está cheio, é preciso sentar-se e
esperar. Qual o problema com você?

Não sabia? Se o inferno é gelado,
a Finlândia ganhou o concurso de música da Eurovision.


Uma cidade de escadas brancas

Lisboa, cidade das escadas brancas, muitos
poetas têm descido essas escadas como se desce das pelves
escrevendo sobre esta descida até o Tejo que
brilha azul com uma parcela de luz
amarela. Ou eles têm sentado nas esquinas
das tascas mais afastadas pensando por que a
vida deles é tão miserável, por que o seu destino
é o de ter saudades de alguém que não pode ser posto em
palavras, beber esses copos pequeninos e pedir mais,
por que a vida não lhes deu um outro papel. E eles têm escrito
sobre a descida das escadas e da saudade por alguém indizível que
nunca irão encontrar e para afirmar suas palavras eles bebem mais bagaço
para que a vida sinta alguém só por um momento, mesmo com a ausência causada
pela bebedeira e eles escrevem sobre beber e ao escrever eles embriagam-se mais.
E eles bebem os seus copos até o fim, escrevem os versos sobre as escadas que
vão dar no Tejo, os copos que são esvaziados para esquecer esta descida e para a vida mudar de direção, como a intuição do vôo ou o ato do vôo em si mesmo, eles
levantam das cadeiras só um pouco como se fossem levantar
e partir pela porta da tasca ao chamarem os últimos clientes
pelo nome.
 


Há um desejo em mim

Há um desejo das noites anoitecidas em mim, do dia
que se levanta alto, dos muitos sóis, simultaneamente
nascidos, há um desejo em mim da chuva, cadente
como as franjas de uma mantilha. Há o desejo, mas
não a força, uso ferramentas simples, a voz do
formão e do martelo na noite mais densa. Como se
atingisse um corpo para entalhar, a noite caindo sobre o muro
negro, as letras rúnicas, talvez o nome.
 


A rosa, também a rosa

A rosa, também a rosa, Lisboa não seria perfeita sem que a rosa florescesse a cada
estação do ano, esta rosa também não dá em qualquer lugar, somente no meio do Rossio,
os espinhos não tocam a ninguém tão de leve como aos passantes, eis
rosa a rosa de Lisboa, em si os sentimentos suaves que afloram
nesta cidade, ela é a rosa dos bandidos, das prostitutas e dos
traficantes, a rosa que acaricia com seus espinhos qualquer
um, esta rosa que não zomba, não odeia, ela recebe qualquer
que seja a densidade da pele, ela é a rosa dos encontros e
dos rumos, por isso cresce no meio do Rossio e
é rosa dos loucos e dos narcômanos, ela
se estica para tornar-se amiga
do estrangeiro, ela é a
rosa
do encontro

 

Traduzido por Rita Dahl e Márcio-André



 

RITA DAHL nasceu em 1971, em Vantaa, na Finlândia. Publicou os livros de poemas Kun luulet olevasi yksin (Loki-Kirjat, 2004) e Aforismien aika (PoEsia, 2007). Foi responsável pela revista de poesia Tuli & Savu, em 2001, e também pela revista cultural Neliö (www.page.to/nelio). Atualmente prepara uma antologia de poesia portuguesa contemporânea e uma antologia de escritoras da Ásia Central e de outras regiões do mundo. Em 2007, Dahl publicará um retrato do poeta finlandês Jyrki Pellinen.

 


 

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